Tem filme que a gente se esforça pra gostar. Às vezes por conta de uma pré-disposição, uma simpatia com o assunto ou com o diretor. Em geral, essas ou são produções atribuladas ou que pecam pela inexperiência da equipe que tocou o projeto. Tudo isso acaba justificando uma tolerância maior por parte do espectador.
Assim nasce o “filme esforçado”.
“Gran Torino” teve uma produção sem grandes percalços. Seu diretor, Clint Eastwood, já mandou muito chumbo na frente e por trás das câmeras. Então, por que a crítica fez vista grossa a série de defeitos desse filme esforçado?
Por que Clint é o cara. São poucos aqueles que conseguiram cruzar a história do cinema, criando e destruindo seus próprios estereótipos com a naturalidade de quem atravessa as highways de um país cheio de contrastes, com seu Gran Torino 1972, sem ser perturbado por ninguém. É difícil imaginar alguém do seu porte fazendo uma bobagem.
Pois "Gran Torino" é uma bobagem com duas horas de duração.
Menos de cinco minutos filme adentro e as barbeiragens começam. Logo na primeira cena, no funeral da mulher do amargo Walt Kowalski, o personagem de Clint Eastwood, os diálogos nos esfregam na fuça a história que está por vir. Ao invés de revelar, explica-se.
O tom artificial e forçado da história é agravado quando surgem os personagens vietnamitas, que formam com Kowalski o eixo narrativo de "Gran Torino". É difícil encontrar algo de humano por trás da relação entre o preconceituoso ex-combatente da Guerra da Coréia e seus vizinhos, os imigrantes asiáticos. A atuação de boa parte do elenco é risível. Bee Vang e Ahney Her, que interpretam dois irmãos perseguidos por uma gangue vietnamita, parecem saídos de um cursinho de teatro. Apesar de fundamentais para trama, eles mal aparecem no trailer! Não existe subtexto ou sinais de psiquê ativa por trás das ações dos seus personagens. Eles dizem exatamente o que pensam. E pensam só o que é necessário para que a história progrida.
Nem mesmo Clint Eastwood consegue compor um personagem verosssímil . É agradavelmente “cult”, em tempos politicamente corretos, rir de de alguém tão caricato em seus comentários preconceituosos. Mas tirando tais epítetos racistas, pouco resta de memorável. Parece que Clint achou que xingamentos e grunhidos, outra forma de expressão predileta de Kowalski, são o suficiente para construir um personagem. Coisa de diretor preguiçoso?
Não sei como isso passa despercebido ou é tolerado pela crítica. Talvez por que existe uma expectativa que Clint faça um mea-culpa pelos seus anos como “Dirty Harry” e Kowalski lembra em muito um justiceiro arrependido.
Qualquer nuance político ou social não vinga diante de tantos problemas estruturais que o filme apresenta. Pelo menos pra quem não quer fazer esforço quando vai ao cinema!
domingo, 19 de abril de 2009
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